domingo, 4 de outubro de 2009

Nossa história

Verde do verde que foi derrubado,
amarelo do ouro que nos foi roubado,
vermelho do sangue que foi derramado.

Verde do verde que foi derrubado,
amarelo do ouro que nos foi roubado,
vermelho do sangue que foi derramado,
vermelho do sangue que foi derramado,
vermelho do sangue...

Marcus Garvey nos trouxe a fé de Jah,
rastafarianismo como maneira de protestar.
O grande poder do Leão de Judá,
mostrando um povo tão humilde e pobre
que a força rastafari é o que envolve,
liberdade, paz e amor,
liberdade, paz e amor!

Dos escravos trabalhadores,
nasceu a luta mesmo sobre as dores
dos negros, dos negros.
A nossa história vem de perdas e glórias (a nossa história),
A nossa história não é contada na escola (verdadeira história)!
A nossa história vem de perdas e glórias (a nossa história),
A nossa história não é contada na escola (verdadeira história)!

Bob Marley levou ao mundo
a nossa história vinda lá do fundo.
Até a babilônia notou
foi a revolta do homem que brotou a semente de Sião,
foi a semente de Sião!

A nossa história vem de perdas e glórias (a nossa história),
a nossa história não é contada na escola (verdadeira história)!
A nossa história vem de perdas e glórias (a nossa história),
A nossa história não é contada na escola (verdadeira história)!

A nossa gente louva a Jah (Jah)
a fim de se afirmar
à uma força que à luz levará,
nos afastando dos burgueses babiloucos
que por causa do erro não são poucos.
Nós fumamos uma erva sagrada
que desde o ínicio nos curava
e dependermos dessa gente malvada,
e dependermos dessa gente malvada, malvada!

Marcus Garvey,
Bob Marley,
os negros,
os negros,
o Leão conquistador da Tribo de Judá,
nosso Zumbi,
nosso Zumbi,
nosso Zumbi,
nosso Zumbi,
nosso Zumbi,
nosso Zumbi dos Palmares,
nosso Zumbi dos Palmares.

A nossa história, verdadeira história,
nossa história, verdadeira história!
A nossa história, verdadeira história,
nossa história, verdadeira história!
A nossa história, verdadeira história,
nossa história, verdadeira história!


PONTO DE EQUILIBRIO

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Me Deixas Louca
Elis Regina
Composição: Armando Manzanero / Versão: Paulo Coelho

Quando caminho pela rua lado a lado com você
Me deixas louca
E quando escuto o som alegre do teu riso
Que me dá tanta alegria
Me deixas louca

Me deixas louca quando vejo mais um dia
Pouco a pouco entardecer
E chega a hora de ir pro quarto escutar
As coisas lindas que começas a dizer
Me deixas louca

Quando me pedes por favor que nossa lâmpada se apague
Me deixas louca
Quando transmites o calor de tuas mãos
Pro meu corpo que te espera
Me deixas louca

E quando sinto que teus braços se cruzaram em minhas costas
Desaparecem as palavras
Outros sons enchem o espaço
Você me abraça, a noite passa
E me deixas louca

Fake Demodé

Tanto ódio, tanta coisa pra dizer
Como foi difícil sua vida como foi sobreviver

Ia mudar o mundo refazer
Como tá tudo isso deu errado, tudo isso veja você
Mas na hora da atitude a hora do vamo ver
Afogado em tanta mágoa foi que eu vi vocÊ
Cambiando o conteúdo pela forma, fake démodé
Vai posando de engajado só pra aparecer yeah!
Só da boca pra fora, só "H", só labia
Fake Démodé! humm 171ehhh

Tanto ódio, tanta coisa pra dizer
Como foi difícil sua vida como foi sobreviver
Nos Jardins da babilÔnia
Ia mudar o mundo refazer
Como tá tudo isso deu errado, tudo isso veja você
Mas na hora da atitude a hora do vamo ver
Afogado em tanta mágoa foi que eu vi vocÊ
Cambiando o conteúdo pela forma, fake démodé
Vai posando de engajado só pra aparecer yeah!
Só da boca pra fora, só "H", só labia
Fake Démodé! humm 171ehh

Márcio Mello

Não tem sangue nos olhos
Vive negando a sorte
È um surdo aos barulhos
Não vive, espera a morte
Não entende Che Guevara
E é temente a jesus cristo
VocÊ não sabe nada, vocÊ
Não Corre risco, seu medo paralisa
Sua mente que é um caos e isso não é
Papo de intelectual, saia de perto de mim
Seu olho não me vÊ, a vida fez de mim
Inseticida pra vocÊ, a curva não é reta e eu
Mostro pra vocÊ, seu idiota fútil
Seu Fake démodé

Adão Negro

terça-feira, 30 de junho de 2009

Famigerado

Foi de incerta feita — o evento. Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça? Eu estava em casa, o arraial sendo de todo tranqüilo. Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela.

Um grupo de cavaleiros. Isto é, vendo melhor: um cavaleiro rente, frente à minha porta, equiparado, exato; e, embolados, de banda, três homens a cavalo. Tudo, num relance, insolitíssimo. Tomei-me nos nervos. O cavaleiro esse — o oh-homem-oh — com cara de nenhum amigo. Sei o que é influência de fisionomia. Saíra e viera, aquele homem, para morrer em guerra. Saudou-me seco, curto pesadamente. Seu cavalo era alto, um alazão; bem arreado, ferrado, suado. E concebi grande dúvida.

Nenhum se apeava. Os outros, tristes três, mal me haviam olhado, nem olhassem para nada. Semelhavam a gente receosa, tropa desbaratada, sopitados, constrangidos coagidos, sim. Isso por isso, que o cavaleiro solerte tinha o ar de regê-los: a meio-gesto, desprezivo, intimara-os de pegarem o lugar onde agora se encostavam. Dado que a frente da minha casa reentrava, metros, da linha da rua, e dos dois lados avançava a cerca, formava-se ali um encantoável, espécie de resguardo. Valendo-se do que, o homem obrigara os outros ao ponto donde seriam menos vistos, enquanto barrava-lhes qualquer fuga; sem contar que, unidos assim, os cavalos se apertando, não dispunham de rápida mobilidade. Tudo enxergara, tomando ganho da topografia. Os três seriam seus prisioneiros, não seus sequazes. Aquele homem, para proceder da forma, só podia ser um brabo sertanejo, jagunço até na escuma do bofe. Senti que não me ficava útil dar cara amena, mostras de temeroso. Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse, também, não adiantava. Com um pingo no i, ele me dissolvia. O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo. O medo O. O medo me miava. Convidei-o a desmontar, a entrar.

Disse de não, conquanto os costumes. Conservava-se de chapéu. Via-se que passara a descansar na sela — decerto relaxava o corpo para dar-se mais à ingente tarefa de pensar. Perguntei: respondeu-me que não estava doente, nem vindo à receita ou consulta. Sua voz se espaçava, querendo-se calma; a fala de gente de mais longe, talvez são-franciscano. Sei desse tipo de valentão que nada alardeia, sem farroma. Mas avessado, estranhão, perverso brusco, podendo desfechar com algo, de repente, por um és-não-és. Muito de macio, mentalmente, comecei a me organizar. Ele falou:

"Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada..."

Carregara a celha. Causava outra inquietude, sua farrusca, a catadura de canibal. Desfranziu-se, porém, quase que sorriu. Daí, desceu do cavalo; maneiro, imprevisto. Se por se cumprir do maior valor de melhores modos; por esperteza? Reteve no pulso a ponta do cabresto, o alazão era para paz. O chapéu sempre na cabeça. Um alarve. Mais os ínvios olhos. E ele era para muito. Seria de ver-se: estava em armas — e de armas alimpadas. Dava para se sentir o peso da de fogo, no cinturão, que usado baixo, para ela estar-se já ao nível justo, ademão, tanto que ele se persistia de braço direito pendido, pronto meneável. Sendo a sela, de notar-se, uma jereba papuda urucuiana, pouco de se achar, na região, pelo menos de tão boa feitura. Tudo de gente brava. Aquele propunha sangue, em suas tenções. Pequeno, mas duro, grossudo, todo em tronco de árvore. Sua máxima violência podia ser para cada momento. Tivesse aceitado de entrar e um café, calmava-me. Assim, porém, banda de fora, sem a-graças de hóspede nem surdez de paredes, tinha para um se inquietar, sem medida e sem certeza.

— "Vosmecê é que não me conhece. Damázio, dos Siqueiras... Estou vindo da Serra..."

Sobressalto. Damázio, quem dele não ouvira? O feroz de estórias de léguas, com dezenas de carregadas mortes, homem perigosíssimo. Constando também, se verdade, que de para uns anos ele se serenara — evitava o de evitar. Fie-se, porém, quem, em tais tréguas de pantera? Ali, antenasal, de mim a palmo! Continuava:

— "Saiba vosmecê que, na Serra, por o ultimamente, se compareceu um moço do Governo, rapaz meio estrondoso... Saiba que estou com ele à revelia... Cá eu não quero questão com o Governo, não estou em saúde nem idade... O rapaz, muitos acham que ele é de seu tanto esmiolado..."

Com arranco, calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.

O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, inseqüentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava: E, pá:

— "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... faz-megerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?

Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?

— "Saiba vosmecê que saí ind'hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro..."

Se sério, se era. Transiu-se-me.

— "Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o legítimo — o livro que aprende as palavras... É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias... Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam... A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei?"

Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:

— Famigerado?

— "Sim senhor..." — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo — apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. — Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio:

— "Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho..."

Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

— Famigerado é inóxio, é "célebre", "notório", "notável"...

— "Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?"

— Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos...

— "Pois... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?"

— Famigerado? Bem. É: "importante", que merece louvor, respeito...

— "Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?"

Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse:

— Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!...

— "Ah, bem!..." — soltou, exultante.

Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si, desagravava-se, num desafogaréu. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — "Vocês podem ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição..." — e eles prestes se partiram. Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d'água. Disse: — "Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!" Seja que de novo, por um mero, se torvava? Disse: — "Sei lá, às vezes o melhor mesmo, pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não..." Mas mais sorriu, apagara-se-lhe a inquietação. Disse: — "A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfianças... Só pra azedar a mandioca..." Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.


Guimarães Rosa

Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 13.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Adão Negro

Eu sei muito pouco, mais também já sei viver
Das armadilhas do dia a dia nada a temer
Eu vi suas mentiras, nada pode me ferir
Eu tô mais perto, só vou no certo, é pode vir

Porque sou forte deixo marcas pelo chão
Eu sou forte pele negra do Adão
Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Poesia concretista

Fábula de Millor Fernandes

O Rei dos Animais

Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. Não que restasse ao Leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou: “Hei, você aí, macaco – quem é o rei dos animais?” O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: “Claro que é você, Leão, claro que é você!”.
Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: “Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, não é o Leão?” E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: “Currupaco… não é o Leão? Não é o Leão? Currupaco, não é o Leão?”.
Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: “Coruja, não sou eu o maioral da mata?” “Sim, és tu”, disse a coruja. Mas disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo, mais alto de cabeça. Encontrou o tigre. “Tigre, – disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?” O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leão fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: “Sim”. E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido, quando o leão se afastou.
Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o elefante. Perguntou: “Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro da mata?” O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e ensangüentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: “Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado”.

M O R A L: CADA UM TIRA DOS ACONTECIMENTOS A CONCLUSÃO QUE BEM ENTENDE.
O acervo do Projeto NURC-RJ (Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro), ora disponível on-line, constitui referência nacional para estudos da variante culta da língua portuguesa. Trata-se de entrevistas gravadas nas décadas de 70 e 90 do século XX, num total de 350 horas, com informantes com nível superior completo, nascidos no Rio de Janeiro e filhos de pais preferencialmente cariocas. Para garantir a permanência de um dos mais importantes bancos de dados de oralidade urbana culta, deu-se início à digitalização do material, no sentido de preservar a memória nacional. A relevância desta tarefa específica foi bem traduzida pelas palavras de Antenor Nascentes, no Prefácio da primeira edição (1922) de O Linguajar Carioca: "nosso trabalho não é para a geração atual; daqui a cem anos, os estudiosos encontrarão nele uma fotografia do estado da língua e neste ponto serão mais felizes que nós, que nada encontramos do falar de 1822".

Gramática Normativa

Chama-se gramática normativa a gramática que busca ditar, ou prescrever, as regras gramaticais de uma língua, posicionando as suas prescrições como a única forma correta de realização da língua, categorizando as outras formas possíveis como erradas.

Frequentemente as gramáticas normativas se baseiam nos dialetos de prestígio de uma comunidade lingüística.

Embora as gramáticas normativas sejam comuns no ensino formal de uma língua, a sociolingüística vem favorecendo o estudo da língua como ela realmente é falada, e não como ela deveria ser falada.

Gramática Descritiva

A gramática descritiva é uma gramática que se propõe a descrever as regras de como uma língua é realmente falada, a despeito do que a gramática normativa prescreve como "correto". É a gramática que norteia o trabalho dos lingüistas que pretendem descrever a língua tal como é falada.
As gramáticas descritivas estão ligadas a uma determinada comunidade lingüística e reúnem as formas gramaticais aceitas por estas comunidades. Como a língua sofre mudanças, muito do que é prescrito na gramática normativa já não é mais usado pelos falantes de uma língua. A gramática descritiva não tem o objetivo de apontar erros, mas sim identificar todas as formas de expressão existentes e verificar quando e por quem são produzidas.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Piano Bar

O que você me pede eu não posso fazer
Assim você me perde, eu perco você
Como um barco perde o rumo
Como uma árvore no outono perde a cor.

O que você não pode, eu não vou te pedir.
O que você não quer, eu não quero insistir.
Diga a verdade, doa a quem doer.
Doe sangue e me dê seu telefone.

Todos os dias eu venho ao mesmo lugar,
Às vezes fica longe, impossível de encontrar
Mas, quando o Bourbon é bom
Toda noite é noite de luar.

No táxi que me trouxe até aqui Willie Nelson me dava razão,
As últimas do esporte, hora certa, crime e religião.
Na verdade 'nada' é uma palavra esperando tradução.

Toda vez que falta luz,
Toda vez que algo nos falta
O invisível nos salta aos olhos,
Um salto no escuro da piscina.

O fogo ilumina muito por muito pouco tempo
Em muito pouco tempo, o fogo apaga tudo.
Tudo um dia vira luz.
Toda vez que falta luz
O invisível nos salta aos olhos.

Ontem à noite, eu conheci uma guria
Já era tarde, era quase dia.
Era o princípio num precipício.
Era o meu corpo que caía.

Ontem à noite, a noite tava fria
Tudo queimava, mais nada aquecia.
Ela apareceu, parecia tão sozinha.
Parecia que era minha aquela solidão.

Eu conheci uma guria que eu já conhecia
de outros carnavais com outras fantasias
Ela apareceu, parecia tão sozinha.
Parecia que era minha aquela solidão.




Engenheiros do Hawaii

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Esquadros

EU ANDO PELO MUNDO PRESTANDO ATENÇÃO
EM CORES QUE EU NÃO SEI O NOME
CORES DE ALMODÓVAR
CORES DE FRIDA KAHLO, CORES
PASSEIO PELO ESCURO
EU PRESTO MUITA ATENÇÃO NO QUE MEU IRMÃO OUVE
E COMO UMA SEGUNDA PELE, UM CALO, UMA CASCA,
UMA CÁPSULA PROTETORA
EU QUERO CHEGAR ANTES
PRA SINALIZAR O ESTAR DE CADA COISA
FILTRAR SEUS GRAUS
EU ANDO PELO MUNDO DIVERTINDO GENTE
CHORANDO AO TELEFONE
E VENDO DOER A FOME NOS MENINOS QUE TÊM FOME

PELA JANELA DO QUARTO
PELA JANELA DO CARRO
PELA TELA, PELA JANELA
(QUEM É ELA, QUEM É ELA?)
EU VEJO TUDO ENQUADRADO
REMOTO CONTROLE

EU ANDO PELO MUNDO
E OS AUTOMÓVEIS CORREM PARA QUÊ?
AS CRIANÇAS CORREM PARA ONDE?
TRANSITO ENTRE DOIS LADOS DE UM LADO
EU GOSTO DE OPOSTOS
EXPONHO O MEU MODO, ME MOSTRO
EU CANTO PRA QUEM?

PELA JANELA DO QUARTO
PELA JANELA DO CARRO
PELA TELA, PELA JANELA
(QUEM É ELA, QUEM É ELA?)
EU VEJO TUDO ENQUADRADO
REMOTO CONTROLE

EU ANDO PELO MUNDO E MEUS AMIGOS, CADÊ?
MINHA ALEGRIA, MEU CANSAÇO?
MEU AMOR CADÊ VOCÊ?
EU ACORDEI
NÃO TEM NINGUÉM AO LADO

PELA JANELA DO QUARTO
PELA JANELA DO CARRO
PELA TELA, PELA JANELA
(QUEM É ELA, QUEM É ELA?)
EU VEJO TUDO ENQUADRADO
REMOTO CONTROLE

Essa sociedade merece sobreviver?

O atual Presidente da Assembleia Geral da ONU, Miguel d’Escoto Brockmann, ex-chanceler da Nicarágua sandinista, está conferindo rosto novo à entidade. Tem criado grupos de estudo sobre os mais variados temas que interessam especialmente à humanidade sofredora como a questão da água doce, a relação entre energias alternativas e a seguridade alimentar, a questão mundial dos indígenas e outros. O grupo talvez mais significativo, envolvendo grandes nomes da economia, como o prémio Nobel Joseph Stiglitz é aquele que busca saídas coletivas para a crise econômico-financeira. Todos estão conscientes de que os G-20, por mais importantes que sejam, não conseguem representar os demais 172 países onde vivem as principais vítimas das turbulências atuais. D’Escoto pretende nos dias 1, 2 e 3 de junho do corrente ano reunir na Assembléia da ONU todos os chefes de estado dos 192 países membros para juntos buscarem caminhos sustentáveis que atendam à toda a humanidade e não apenas aos poderosos.

O mais importante, entretanto, reside na atmosfera que criou de diálogo aberto, de sentido de cooperação e de renúncia a toda a violência na solução dos problemas mundiais. Sua sala de trabalho está coberta com os ícones que inspiram sua vida e sua prática: Jesus Cristo, Tolstoi, Gandhi, Sandino, Chico Mendes entre outros. Todos o chamam de Padre, pois continua padre católico, com profunda inspiração evangélica. Ele é homem de grande bondade que lhe vem de dentro e que a todos contagia.

Foi sob sua influência que o Presidente da Bolívia Evo Morales pôde propor à Assembleia Geral que se votasse a resolução de instaurar o dia 22 de Abril como o Dia Internacional da Mãe Terra, o que foi aceito unanimemente. Foi honroso para mim poder expôr aos representantes dos povos os argumentos científicos, éticos e humanísticos desta concepção da Terra como Mãe.

Tudo isso parece natural e óbvio e de um humanismo palmar. Entretanto – vejam a ironia – representantes de países ricos acham o comportamento do Padre muito esquisito. Apareceu há pouco tempo um artigo no Washington Post fazendo eco a esta qualidade. Dizia o articulista que Miguel d’Escoto fala de coisas estranhíssimas que nunca se ouvem na ONU tais como solidariedade, cooperação e amor. Em seus discursos saúda a todos como irmãos e irmãs (Brothers and Sisters all). Mais estranho ainda, diz o articulista, é o fato de que muitos representantes e até chefes de estado como Sarkosy estão assumindo a mesma linguagem estranha.

Meu Deus, em que nível do inferno de Dante nos encontramos? Como pode uma sociedade construir-se sem solidariedade, cooperação e amor, privada do sentimento profundo expresso na Carta dos Direitos Humanos da ONU de que somos todos iguais e por isso irmãos e irmãs?

Para um tipo de sociedade que optou transformar tudo em mercadoria: a Terra, a natureza, a água e a própria vida e que coloca como ideal supremo ganhar dinheiro e consumir, acima de qualquer outro valor, acima dos direitos humanos, da democracia e do respeito ao ambiente, as atitudes do Presidente da Assembleia da ONU parecem realmente estranhíssimas. Elas estão ausentes no dicionário capitalista.

Devemos nos perguntar pela qualidade humana e ética deste tipo de sociedade. Ela representa simplesmente um insulto a tudo o que a humanidade pregou e tentou viver ao longo de todos os séculos. Não sem razão está em crise que mais que econômica e financeira é crise de humanidade. Ela representa o pior que está em nós, nosso lado demens. Até financeiramente ela se mostrou insustentável, exatamente no ponto que para ela é central.

Esse tipo de civilização não merece ter futuro nenhum. Oxalá Gaia se apiade de nós e não exerça sua compreensível vingança. Mas se por causa de dez justos, consoante a Bíblia, Deus poupou Sodoma e Gomorra, esperamos também ser salvos pelos muitos justos que ainda florescem sobre a face da Terra.

Leonardo Boff é autor de Do iceberg à Arca de Noé, (Garamond),Rio.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Só de Sacanagem!

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

Elisa Lucinda

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Viver!

Nem a tristeza, nem a desilusão.
Nem a incerteza, nem a solidão...
... Nada me impedirá de sorrir...
Nem o medo, nem a depressão.
Por mais que sofra meu coração...
Nada me impedirá de sonhar...
Nem o desespero nem a descrença.
Muito menos o ódio ou alguma ofensa...
Nada me impedirá de viver...
Mesmo errando e aprendendo.
Tudo me será favorável...
Para que eu possa sempre evoluir.
Preservar, servir, cantar, agradecer.
Perdoar, recomeçar...
Quero viver o dia de hoje.
Como se fosse o primeiro...
Como se fosse o último.
Como se fosse o único...
Quero viver o momento de agora.
Como se ainda fosse cedo.
Como se nunca fosse tarde...
Quero manter o optimismo.
Conservar o equilíbrio e fortalecer
a minha esperança...
Quero recompor minhas energias.
Para prosperar na minha missão,
e viver alegremente todos os dias...
Quero caminhar na certeza de chegar...
Quero lutar na certeza de vencer...
Quero buscar na certeza de alcançar.
Quero saber esperar para poder realizar,
os ideais do meu ser...

domingo, 29 de março de 2009

RECOMEÇAR

Não importa onde você parou, em que momento da vida você cansou…

O que importa é que sempre é possível e necessário RECOMEÇAR.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo.
É renovar as esperanças na vida e o mais importante,
acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
Foi aprendizado
Chorou muito?
Foi limpeza da alma
Ficou com raiva das pessoas?
Foi para perdoá-las um dia
Sentiu-se só por diversas vezes?
É porque fechaste a porta até para os anjos
Acreditou que tudo estava perdido?
Era o início da tua melhora.
Pois é, agora é hora de reiniciar, de pensar na luz,
de encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Que tal um corte de cabelo arrojado, diferente?
Um novo curso, ou aquele velho desejo de aprender a
pintar, desenhar, dominar o computador, ou qualquer outra coisa…
Olha quantos desafios, quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te
esperando.
Está se sentindo sozinho? Besteira…tem tanta gente que você afastou com o
seu “período de isolamento”.
Tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu
para “chegar” perto de você.
Quando nos trancamos na tristeza, nem nós mesmos nos suportamos.
Ficamos horríveis.
O mal humor vai comendo nosso fígado, até a boca fica amarga.
Recomeçar…hoje é um bom dia para começar novos
desafios.
Onde você quer chegar? Ir alto, sonhe alto, queira o
melhor do melhor, queira coisas boas para a vida. Pensando assim
trazemos para nós aquilo que desejamos, se pensamos pequeno,
coisas pequenas teremos.
Já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente
lutarmos pelo melhor, o melhor vai se instalar na nossa vida.
E é hoje o dia da faxina mental.
Joga fora tudo que te prende ao passado, ao mundinho
de coisas tristes. Fotos, peças de roupa, papel de bala, ingressos de
cinema, bilhetes de viagens e toda aquela tranqueira que guardamos
quando nos julgamos apaixonados. Jogue tudo fora, mas principalmente esvazie seu coração, fique pronto para a vida, para um novo amor.

Lembre-se somos apaixonáveis, somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes, afinal de contas, nós somos o AMOR…